8 de dezembro de 2014

O velho

O velho sentava
na porta da casa
que dava pra rua
quase que sem carros,
ali passavam pássaros
que pousavam sobre os fios
embelezando a deformação
que a urbanização causara
na paisagem.

O velho observava
o mato que nascia
entre o concreto dos muros
e pensava que ali
ele via sua vida:
a resistência e a habilidade
necessárias para sobreviver.

O velho via a sabedoria
no mato
que aproveitava a fraqueza
do concreto
exposta nas rachaduras
pra despontar sua vida
e beleza,
ele sentia que pertencia
sabedoria semelhante
e seu semblante
não negava isto.

O velho ficava ali
na porta da casa
resgatando sua vida
nas imagens simples
que seus olhos filmavam
naquela rua,
se colocava no meio do portão
e sentia que seus olhos
abraçavam o que estava
a sua frente.

Da porta da casa
o velho tinha a impressão
que possuía
visão panorâmica
de sua vida,
e a cada piscada de olhos
arquivava em sua memória
o filme que captara.
A memória do velho era
um cinema
em composição.






4 de dezembro de 2014

A moça

Ansiosa e honesta
bondade no sorriso
de olhar inquieto
e pensamentos curiosos,
nervosos e imprevisíveis.
Pessoa imprevisível
de lua
e na lua cheia, é pura.
Mística, musical
amigavelmente grosseira
sinestésica, gesticulosa
imperativa e ativa,
desativada no início da tarde
quando está sonolenta
é lenta para a pressa dos dias
veloz com sua sutileza
e destreza
com suas incerteza
inquietudes
que a constituem na vida.

Quase telúrica.